Adele Diamond, Funções Executivas e Cogmed

Adele Diamond, Funções Executivas e Cogmed por Thaís Dell'Oro de Oliveira

Adele Diamond é uma professora e pesquisadora norte americana, atualmente ocupando a posição de presidente de pesquisa em Neurociência e Cognição do Desenvolvimento em uma universidade canadense. Diamond foi nomeada uma das 2000 mulheres destacadas do século XX e foi listada como uma das 15 neurocientistas mais influentes hoje em dia (Ioannidis, Baas, Klavans, & Boyack, 2019).

Funções Executivas se referem a processos mentais complexos que possibilitam a ação direcionada a objetivos (Diamond, 2013), em outras palavras são as habilidades que recrutamos quando agir por impulso não é possível, quando precisamos pensar. Existe um consenso de que as três principais Funções Executivas são: Memória Operacional, Controle Inibitório e Flexibilidade (Miyake et al., 2000).

A Memória Operacional se refere ao processo que possibilita manter informações disponíveis e manipulá-las mentalmente. Por exemplo, se eu peço seu número de celular ou seu CPF você disponibiliza essa informação, e quando eu peço para me falar esse número de traz para frente, você precisa manipulá-lo e, então, utiliza a Memória Operacional.

O Controle Inibitório é uma habilidade que permite o controle de atenção, pensamentos e comportamentos que normalmente são automáticos, em prol de um processo mais adequado à situação. Por exemplo, se você está em uma reunião com várias pessoas e sua chefe começa a te criticar de forma mais agressiva e, ao invés de pular no pescoço da sua chefe, você se controla e simplesmente dá uma resposta educada.

A Flexibilidade Cognitiva diz da habilidade de mudança de perspectiva, o que envolve conseguir mudar de ponto de vista sobre uma situação ou, quando a resolução de algum problema não funciona, conseguir pensar em uma solução nova. Essa função também pode ser entendida como criatividade ou alternância. Por exemplo, você vai fazer uma receita de suflê pela primeira vez e ela não do certo. Você precisa da flexibilidade cognitiva para pensar em que parte da receita você precisa mudar seu método, temperatura do forno ou ingrediente. Uma pessoa rígida (e, portanto, com flexibilidade cognitiva deficitária) terá dificuldade em pensar em uma forma diferente e provavelmente irá repetir exatamente os passos e persistir no erro.

Considerando a importância das Funções Executivas no nosso dia-a-dia, o interesse em estudar formas de desenvolver tais funções é grande. A literatura traz diversas formas de estimular as Funções Executivas como jogos interativos, treinos computadorizados, artes marciais, currículos escolares, atividade física, yoga, mindfulness e artes, sendo o treino computadorizado de memória operacional um dos mais estudados (Diamond & Lee, 2011). 

Diamond, como a pesquisadora que é, traz alguns artigos sobre estimulação de Funções Executivas. Em um artigo de 2011, Diamond e Lee revisam programas que demonstraram impacto no desenvolvimento de Funções Executivas em crianças, incluindo o treino computadorizado. Eles relatam que, dentre os programas existentes, o CogMed® para treino da memória operacional tem sido o mais estudado e o que demonstrou mais resultados positivos. As crianças treinam memória operacional por meio de jogos com aumento de dificuldade e isso parece transferir para outras tarefas de memória operacional. O uso do treino CogMed® para controle inibitório tem resultados mais limitados, com estudos demonstrando ganho de tal função somente em algumas tarefas.

Diamond e Lee também abordam sobre a o efeito de transferência de intervenções computadorizadas, isto é, se o desenvolvimento de uma habilidade impacta o desenvolvimento de outra. Segundo os autores, treino de memória operacional parecer ter efeito de transferência, ainda que restrita. Por exemplo, ganhos do treino de memória operacional visuoespacial não se transferem para tarefas de memória operacional verbal.

Quanto à duração dos efeitos do treino computadorizado, alguns estudos demonstraram que os ganhos se mantiveram por 6 meses após o treino, mas é importante salientar que, ainda que existentes, os ganhos do treino diminuem quando a intervenção é interrompida. Outros estudos encontraram que, para matemática, apesar do ganho não ter sido evidente imediatamente, ele ficou claro 6 meses após a intervenção. 

Diamond estipula algumas características necessárias ao programa de intervenção para que ele realmente possa estimular Funções Executivas (Diamond & Ling, 2016):

Sujeitos com Funções Executivas mais rebaixadas antes da intervenção serão aqueles que mais vão se beneficiar do programa;

As maiores diferenças de desempenho entre grupo controle e grupo de intervenção aconteceram em estudos que utilizaram no treino tarefas mais difíceis;

É importante que a tarefa de treino seja gradativamente desafiadora para o sujeito, aumentando o nível de dificuldade ao longo do treino;

É importante que o programa seja praticado repetitivamente, com mais práticas ao longo da semana, uma vez que o ganho em Funções Executivas depende da quantidade de tempo que é dedicado à Função Executiva; e

O fator mais importante em todas as intervenções propostas é a disposição do sujeito em se dedicar ao treino.

É interessante notar que tais características estão presentes no programa de treino de memória operacional CogMed®. O programa é realizado em sessões de aproximadamente 40 minutos, 5 vezes por semana, durante 5 semanas, garantindo o treino repetido e frequente. O nível de dificuldade das tarefas é ajustado em tempo real de acordo com o desempenho do sujeito, garantindo que a motivação continue e que o sujeito precise sempre se esforçar um pouco mais para completar a tarefa. A cada tarefa realizada, o sujeito recebe um feedback positivo, como forma de mantê-lo motivado. Existem versões diferentes para faixas etárias diferentes, para garantir que as tarefas estejam no nível de dificuldade adequada para o estágio de desenvolvimento, garantindo a complexidade e dificuldade, mas sem tornar a tarefa impossível de ser feita. Portanto, para se treinar e desenvolver Funções Executivas, treinos computadorizados, especialmente o programa CogMed® para memória operacional, se mostram eficazes.


Autora: Thaís Dell'Oro de Oliveira

Psicóloga, Mestre e Doutoranda pela Universidade Federal de Minas Gerais


REFERÊNCIAS

Diamond, A. (2013). Executive functions. Annual review of psychology, 64, 135-168.

Diamond, A., & Lee, K. (2011). Interventions shown to aid executive function development in children 4 to 12 years old. Science, 333(6045), 959-964.

Diamond, A., & Ling, D. S. (2016). Conclusions about interventions, programs, and approaches for improving executive functions that appear justified and those that, despite much hype, do not. Developmental cognitive neuroscience, 18, 34-48.

Ioannidis, J. P., Baas, J., Klavans, R., & Boyack, K. W. (2019). A standardized citation metrics author database annotated for scientific field. PLoS biology, 17(8), e3000384.

Miyake, A., Friedman, N. P., Emerson, M. J., Witzki, A. H., Howerter, A., & Wager, T. D. (2000). The unity and diversity of executive functions and their contributions to complex “frontal lobe” tasks: A latent variable analysis. Cognitive psychology, 41(1), 49-100.