O momento atual, marcado pela pandemia da Covid 19 e a saúde mental dos idosos.

O momento atual, marcado pela pandemia da Covid 19, é ímpar na história recente. A doença, facilmente transmissível e assustadoramente perigosa gera anseio em todos nós, uma vez que aumenta as incertezas sobre nosso futuro e exige mudanças radicais em nosso cotidiano para se adaptar a esta nova realidade. O público que corre maior risco de vida com a infecção são os idosos. Aparentemente cada ano de vida aumenta a letalidade da Covid 19, levando nossos cidadãos seniores em a uma situação de maior ansiedade e insegurança. É esperado portanto um aumento no número de idosos acometidos por algum transtorno mental.

Contrariando o senso comum a população idosas é mais resiliente a boa parte dos transtornos mentais. Um estudo populacional realizado no Brasil, na cidade de São Paulo documentou menor prevalência transtornos na população idosa, sobretudo quando comparamos aos adultos mais jovens (vejam a figura abaixo). Este é um resultado interessante, uma vez nossa cultura criou uma imagem negativa do processo de envelhecimento, associando-o a um declínio generalizado da saúde física e mental. Não estou minimizando o desafio de envelhecer, mas, contrariando tal ilusão cultural, uma série de variáveis psicológicas tendem a se desenvolver ainda mais ao longo do tempo, tornando os idosos particularmente habilidosos. A autorregulação, incluindo o autocontrole, melhoram consistentemente ao longo do desenvolvimento humano, atingindo níveis mais elevados na velhice. Isso ocorre na maioria dos contextos, salvo em situações excessivamente novas e muito diferente das experiências prévias do sujeito. Lidamos então, ao discutirmos os idosos, com uma população com elevado autocontrole, menos sensível às variações emocionais intensas e erráticas típicas da juventude, com maior experiência e aprendizado. Em síntese, pessoas de elevada sabedoria. Neste contexto, podemos realmente considerar os idosos como um grupo de risco em termos de saúde mental nesta Pandemia?

Infelizmente sim. Embora dotados das características anteriores, o estresse ambiental parece ainda maior aos idosos neste momento. O maior risco de morte e complicações duradouras decorrentes da Covid-19 é um estressor por si só, que ameaça diretamente a integridade física do idoso. A ênfase excessiva de tal fato pela mídia, que por vezes passa a ideia da infecção ser um risco apenas para os idosos, é um agravante para o estresse vivido por este grupo, uma vez que tal informação é repetida exaustivamente. Contudo, é importante ressaltar que a mortalidade pela doença é também documentada em outras faixas etárias e o aumento mais expressivo do risco de óbito é mais consistente apenas após os 70 anos. O papel de comorbidades de saúde é um fator a ser considerado, embora a idade seja um fator de risco independente dos mesmos. 

A mudança de hábitos e do cotidiano e rotina familiar parece ainda exercer um papel importante na piora da saúde mental. Novamente, isso afeta todas as faixas etárias, mas algumas particularidades dos idosos pode tornar tais mudanças particularmente 

Por: Jonas Jardim de Paula